Nos anos 70, aos domingos, eu e meu pai passeávamos pela cidade deserta. Quando chegava na Ladeira da Memória eu não queria subir, meu pai me puxava pela mão e dizia: _São apenas alguns degraus filha, vem, a gente sobe rapidinho. E eu resmungava: _Ah pai, tô cansada, não agüento. Ele conversava comigo, quando eu percebia, já estava no alto da escadaria. São as minhas memórias da Ladeira da Memória!...
No começo do século XIX o Largo da Memória, localizado no início da rua Palha - atual rua 7 de Abril, era ponto de reunião dos moradores da província e caminho obrigatório dos viajantes que paravam para encher os seus cantis na bica ali existente.
"Ladeira da Memória" (Zécarlos Ribeiro)
Olha as pessoas descendo, descendo, descendo Descendo a Ladeira da Memória Até o Vale do Anhangabaú Quanta gente! Vagando pelas ruas sem profissão Namorando as vitrines da cidade Namorando, andando, andando, namorando O céu ficou cinza e de repente trovejou E a chuva vem caindo, caindo, caindo Prendendo as pessoas nas portas, nos bares Na beirada das calçadas Quanta gente! Com ar aborrecido olhando pro chão Pro reflexo dos edifícios e dos carros Nas poças d'água E pros pingos, pingando, pingando, pingando Olha as pessoas felizes, felizes, felizes Felizes por que a chuva que caía agora pouco Essa chuva que caia agora pouco já passou